Certo dia eu estava sentada no banco da rodoviária aguardando o ônibus para retornar a minha casa, pois já não era tão novinha e nem morava mais com meus pais devido ao trabalho e estudos.
Eu estava lendo um livro, o qual eu não me recordo no momento, mas lembro-me que estava falando algo sobre o amor de Deus.
Então apareceu um mendigo e começou a falar comigo, até então eu nunca havia sequer olhado para um destes, não sei dizer ao certo se era por medo ou me sentir triste por ele estar naquela situação e eu não poder ou até mesmo não querer fazer nada para mudar isso.
Ele estava com um pão francês velho, uma latinha de ervilha e uma latinha milho, me disse bom dia e eu respondi retornando a minha leitura, afinal era muito mais importante do que dar atenção a um moribundo mal cheiroso que sentava-se ao meu lado.
Ele serviu-se e gentilmente me pediu se eu gostaria de dividir a alimentação com ele e eu é claro que agradeci e falei para sentir-se a vontade. O homem novamente ofereceu sua alimentação a mim e eu novamente agradeci, sempre retornando os meus olhos novamente à minha leitura.
Isso ocorreu algumas vezes, acredito que umas três ou quatro, aí eu fechei o livro e olhei nos olhos daquele senhor e a partir daquele momento eu pude ter certeza de que não era um mendigo, aquele olhar era fundo, penetrante, muitas palavras eram ditas ao meu coração sem ao menos o homem abrir a boca para falar.
O moço começou a trocar algumas palavras comigo, pedindo para onde eu iria e eu lhe respondi, as pessoas começaram a olhar com pavor a nossa conversa, imagina... uma menina delicada, limpa, falando com um moribundo mal cheiroso que comia o milho de sua latinha virando-a na boca como se fosse um copo de água.
Ele me questionou quando a Deus, eu disse-lhe que Deus estava conosco sempre, em todos os lugares, inclusive naquele momento conosco. O moço me disse que tinha tido uma vida muito ruim, tinha sido um homem muito mal e que Deus não estava com ele, ele estava esperando ela chegar (a morte, creio eu... pois não revelou até o final da nossa conversa...) falei a ele que Deus nos ama, que por isso morreu numa cruz por nós, que basta entregarmos o nosso coração a Ele.
O ônibus então chegou e eu falei que teria que ir, para a minha surpresa o homem embarcou também e sentou-se próximo a mim, ficava me observando como se quisesse me falar algo, mas não falava e eu novamente voltei a minha leitura.
Chegamos a uma cidade vizinha e o homem então levantou-se para descer, antes de descer do ônibus ele me disse algumas palavras, não lembro exatamente quais foram, mas o significado delas eu lembro bem: Você é uma pessoa boa e realmente tem Deus no seu coração, Deus esteja com você onde for e que as pessoas possam ver Ele em ti!
Eu fiquei perplexa, pois de repente o homem falou em linguagem culta, sem erros, sem engasgos na voz.
O homem se foi, nunca mais o vi...
As pessoas do ônibus começaram a comentar sobre a minha coragem de conversar com aquele homem, principalmente em relação a situação que ele estava. Falaram que eu havia sido uma pessoa polida, educada e de bom coração, também reconheceram que elas não teriam jamais coragem de fazer o que eu fiz (parar a minha leitura e conversar com o moço olhando nos olhos dele, apesar dos maus modos e mau cheiro...).
Eu apenas ouvia e sorri, quando o homem desceu as escadas do ônibus... eu fiquei olhando, ele acenou como se estivesse dando um Adeus e se foi...
Tudo isso foi muito tocante, até hoje eu posso ver aqueles olhos, acredito fielmente que não tenha sido um simples mendigo... um enviado por Deus para me dar uma lição... um anjo ou talvez o próprio Jesus... não sei, mas ao escrever este depoimento lágrimas correm no meu rosto, de emoção... e neste momento sinto o abraço forte de Jesus em mim, sinto o seu amor presente comigo...
Obrigada meu Senhor por me proporcionar esta oportunidade maravilhosa... obrigada por abrir o meu coração e ter ouvido aquele homem.
Senhor, quero ser uma luz aqui neste mundo, em que as pessoas possam ver em mim o seu amor... através de minhas atitudes, minhas palavras...
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